UMA DOSE CARREGADA DE LIRISMO DAS PÁGINAS À TELA Sobre Lavoura Arcaica

Vi o filme antes de ler o livro e posso garantir que as duas obras, a do cinema e a da literatura são imprescindíveis e espetaculares. Parabéns ao escritor Raduan Nassar e parabéns a cineasta Luiz Fernando Carvalho!

Todo mundo sabe que eu não sou fã do cinema brasileiro. É a cinematografia que exibo com menor freqüência. E a razão é uma só: o caráter televisivo das produções. Acho que fazemos excelentes novelas, mas odeio ver uma novela no cinema – a exceção fica por conta dos filmes de Almodóvar! Mas deixo claro, também, que o cinema nacional possui grandes filmes na sua história e excelentes diretores que fazem cinema com cara de cinema e identidade própria.

Luiz Fernando Carvalho é, no entanto, um criador que levou a linguagem do cinema para a televisão e deste modo, elevou o nível da televisão brasileira (Renascer, Rei do Gado, Uma Mulher Vestida de Sol, Hoje é Dia de Maria, A Pedra do Reino, Os Maias, Capitu) a um patamar estético que já estávamos desacostumados na TV. Talvez nunca tenhamos visto antes dele.

Então, pra mim, ele é e sempre foi um diretor de cinema. Suas imagens são cinema puro. A condução das histórias, a direção do elenco, o apuro do figurino, da trilha sonora, das marcações de cena fazem com que cada tomada seja um filme a parte.

O livro de Raduan Nassar foi o roteiro que se seguiu. Do livro para as telas. Palavra por palavra. Da primeira vez que assisti, lembro de tê-lo achado redundante, porque as palavras dos atores eram idênticas às imagens que eu via na tela. Não carecia que os atores falassem nada, que o narrador se pronunciasse. E senti falta de legendas também. Porque me desacostumei em ouvir no cinema. Tanto que na primeira vez que o exibi – e desta próxima não será diferente – eu passarei ele com legendas.

Venham preparados, portanto, para ler muito: ler imagens, ler sons, ler palavras. Já foi dito que essa lavoura é de palavras arcaicas e caídas no desuso. Que esta lavoura é de uma poesia literária antiga e anacrônica. O filme resgata o triunfo da palavra e materializa nossa imaginação.

Convido a todos para lerem o livro e verem o filme e que se enebriem do vinho da vida e do prazer amoroso. Este filme possui sexualidade transbordada da cuia familiar e eleva o meramente animalesco ao essencialmente humano. Contra o moralismo conservador a atitude sacrílega.

0 comentários:

Postar um comentário

Assine o nosso Feed

Cadastre seu email e receba as atualizações da mostra 21:

Delivered by FeedBurner

Pesquisar no blog