NA ESTRADA PARA ALGUM LUGAR MAIS PERTO DA PELE Sobre E Sua Mãe Também


Amigos, bebida, paqueras, uma longa estrada pra algum lugar deserto e desconhecido e a chance de tudo isso se transformar em sexo, descobertas e fortes emoções.

Filmes de estrada são um gênero específico de cinema. Existem muitos filmes que se desenrolam em trânsito entre um lugar e outro: FANDANGOS, SEM DESTINO, PEQUENA MISS SUNSHINE. Na travessia tudo pode acontecer. Não se chega da mesma forma que se saiu.

Em E SUA MÃE TAMBÉM, a primeira viagem que não iremos acompanhar é a de duas amigas para a Europa. Deixam seus namorados com a promessa de que não transarão com nenhum estrangeiro. Eles se ocupam em cansá-las até o último instante, mas nenhum deles é capaz de se cansar sequer por algumas horas. Estão todos no auge do viço.

Os dois amigos inseparáveis sem as namoradas vão curtir a sua liberdade temporária e se envolvem logo com uma mulher mais velha, charmosa e jovial. Esta deixa o marido e parte em busca de uma praia deserta com eles, buscando, de fato, sabe somente ela o quê.

Todo mundo que assiste ao filme entra naquele mesmo carro e participa das conversas, das brincadeiras, da sensação de vazio que reside na partida. Temos o Gael Garcia Bernal explodindo sensualidade e ainda bastante jovem. É bom vê-lo atuando com extrema entrega e despojamento neste filme e continuar vendo-o em excelentes atuações já mais maduro como em CORAÇÕES EM CONFLITO de Lukas Moodysson ou ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA de Meirelles.

O narrador é um personagem importantíssimo nessa trama, porque ele nos conta dos silêncios, das motivações dos personagens, do que há por trás das imagens na beira da estrada e de como são percebidas, interpretadas. O narrador nos diz o que não veríamos nem saberíamos sem a sua ajuda. E como ele não está lá no mesmo carro, identificamo-nos imediatamente com ele, cúmplices e voyeurs.

PARA DENTRO DO MAR, PARA LONGE DA TERRA Sobre Mar Adentro


Cortar a vida que não se quer. Sair de cena com a dignidade da própria escolha. Desafiar a vida, recusando-a. Estas três sentenças juntas e encarrilhadas são extremamente polêmicas por remeterem a suicídio e eutanásia. A religião, a sociedade, a família e as leis proíbem e condenam essa decisão, digamos, sobrenatural. Alejandro Amenábar, em seus filmes, costuma defender, exatamente, esse ponto de vista. Em Os Outros e Alexandria temos suicídio e em Mar Adentro isso será a mola propulsora do filme.

As tragédias pessoais que impossibilitem a felicidade e a realização do prazer na terra parecem que são motivo suficiente para que os personagens abandonem a carcaça humana. Ramón Sampedro é um homem que se vê impossibilitado de cometer suicídio e que luta na justiça por esse direito. A sua história, para mentes frágeis, pareceria mórbida e triste, ou mesmo, derrotista. Advirto que não. É a história de um homem inteligente, perspicaz, bem-humorado, charmoso e que acredita ter vivido mais do que o suficiente numa situação que o degrada e desagrada. O filme não defende que é certa a sua decisão, mas que é certo o direito de ele decidir sobre si.

Incrível como torcemos para que ele viva, porque ele é encantador e inspirador, mas de certo modo, nos vemos como egoístas que enjaulam pássaros em gaiolas porque nos deliciamos com seu canto.

Geniais são as escolhas e recortes do roteiro e o encadeamento das cenas previstas pela direção. Javier Bardem, novamente, brilha transformando-se no velho Ramón cansado de sua existência. Merecidos todos os prêmios pela sua atuação.


Os outros personagens que o circundam dão o devido tom emotivo que um filme desta natureza prevê e a última cena arrebatará os demais corações e cérebros que ainda permaneçam endurecidos.

SILÊNCIO COM CHEIRO DE GÁS MORTÍFERO Sobre Amém.




Costa-Gavras é um diretor que me acompanha desde que vi Z pela primeira vez. Lembro da capa do vídeo-cassete! (é o novo...): era uma capa preta com aquela letra branca enorme e bem centralizada, Z. Do que tratava aquele filme? Um filme que ficou proibido no Brasil durante anos, desde o seu lançamento e que havia levado o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano de seu lançamento.



Um dia, encontrei-o novamente e assisti-o num pequeno cineclube na residência estudantil onde morava em Recife. Nossa! A primeira cena de um cientista explicando o perigo e os danos causados por fungos nas plantações e a forma de lidar com essa praga para uma platéia de militares é quase surreal, mas quando o General pede a fala, em seguida, para comparar os fungos aos aos comunistas no país, fica tudo claríssimo. Daí em diante, vemo-nos num suspense político dos melhores já produzidos.



O cinema de Costa-Gavras é político e instigante. Em 2002 foi a vez dele tocar num assunto bastante polêmico: a relação da Igreja Católica com o III Reich Alemão durante a Segunda Guerra Mundial. A Santa Sé sabia ou não do assassinato em massa dos judeus? O cartaz do filme provocou protestos violentos na França por parte de católicos fervorosos.



O roteiro, mesmo falado em inglês, ganhou o César na França. Nele vemos a agonia de um soldado da SS, protestante, que descobre que o produto que ele inventou para purificar a água dos soldados estava sendo usado para exterminar os judeus em câmaras de gás. Desde esse momento ele vive com um forte sentimento de culpa e tentando avisar o alto clero romano para que o mundo tome conhecimento do horror. É quando entra na história o jovem padre Ricardo Fontana, que busca ajudá-lo nessa tarefa. Todos ao redor, no entanto, correm com suas vidas, sem mostrarem grande preocupação, enquanto comem bem ou se preocupam com grandes cerimônias e acordos políticos.



O filme é cortado por trens de passageiros, dando a dimensão exata de que enquanto a história corre, pessoas vão sendo mortas aos milhares.



Essa história fala aos jovens compromissados com idéias e com o futuro e de nossas responsabilidades com o mundo e com os outros. Seremos mártires ou salvaremos a própria pele e nos silenciaremos frente às injustiças?

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