A BELEZA DE SE ASSISTIR HISTÓRIAS BEM CONTADAS Sobre Desejo e Reparação




Realmente, eu não sei se este título ficou conhecido em nossa região. Existem aqueles filmes que viram assunto e todo mundo os comenta e eles acabam “acontecendo” nas locadoras. Também não tenho registro se este passou no Cinema do Shopping Cariri à época.

O mercado distribuidor prega-nos muitas peças. Às vezes, a agenda de uma sala de exibição fica tão lotada que passa o tempo de se exibir determinado filme e ele vai direto para as locadoras e, dependendo do tempo que leve para que isso aconteça, o DVD chega tanto tempo depois, que as pessoas já o confundem com outros títulos ou temas semelhantes e aí ele entra numa espécie de limbo.

É possível que tenha acontecido um certo “esquecimento” com Desejo e Reparação, filme do jovem Joe Wright, que já possui em seu currículo outro filme bastante elogiado, a adaptação do romance de Jane Austen, ORGULHO E PRECONCEITO, onde se iniciou a sua feliz parceria com a atriz Keira Knightley indicada ao Oscar de Melhor Atriz nos dois trabalhos - Ela é mais conhecida, no entanto, por seu papel em PIRATAS DO CARIBE.

Esta é a segunda adaptação feita por Joe, desta vez do livro REPARAÇÃO (quem quiser lê-lo, procure-o na Biblioteca do SESC) do escritor britânico Ian McEwan. O título em inglês é apenas Atonement/Reparação, mas a duplicidade da tradução para os cinemas brasileiros deve ter vindo do fato da duplicidade do título do filme anterior... algo para facilitar as relações de memória do espectador entre os filmes ORGULHO E PRECONCEITO e DESEJO E REPARAÇÃO.

Bem, o filme que exibiremos na MOSTRA 21 ganhou como Melhor Filme Estrangeiro no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, além dos prestigiados Globo de Ouro de Melhor Filme e Oscar de Melhor Trilha Sonora. Possui cenas belíssimas e conseguimos perceber que a estrutura narrativa do romance foi mantida para que o clima de “diversas versões do mesmo fato” permanecesse.

A história é muito simples, mas os personagens são tão marcadamente sofridos e bem interpretados e as cenas são tão bem encadeadas e fotografas, além de muito bem acompanhadas por uma trilha construída a partir de elementos “não musicais” como uma máquina de escrever, que nos sentimos bem ao acompanhar a história.

Isso do uso de uma máquina de escrever inspirar a trilha sonora já foi maravilhosamente usado por Almodóvar em A LEI DO DESEJO. Outra importante relação entre eles: O personagem principal do filme de Almodóvar sente-se culpado de todos os acontecimentos trágicos que cercaram a sua vida por razões muito parecidas com as da antagonista de DESEJO E REPARAÇÃO: de suas mentes nascem monstros que ganham força de realidade ao serem pronunciados.

Temos a Segunda Guerra como pano de fundo, mas o enfoque é amoroso e dramático. Ficção e realidade se misturam e a tentativa de reparação de erros graves cometidos no passado envolve toda a trama.

Este é mais um modelo de filme acadêmico, que não deve sofrer preconceitos do público de cinema de arte que pode vir a desprezá-lo, apenas por ele saber contar muito bem uma simples história. Ou não é verdade que em muitos casos (ou sempre?) vale muito mais a forma como se conta um fato, do que a relevância do fato em si?

4 comentários:

Dia 14 de novembro de 2011 às 18:33  

Esse eu nunca assisti, confesso que um pouco por preconceito que tenho com os romances (sempre acho que vão ser melosos e tediosos). Gosto da interpretação da Keira Knightley em Love Actually e A Duquesa (isn't a good movie, but...), apesar de ela ter essa mandíbula proeminente que me dá agonia. Espero ter uma boa surpresa e desfazer os preconceitos.

Elvis Pinheiro 14 de novembro de 2011 às 19:05  

é a segunda vez que escuto alguém falando da mandíbula da Keira... tomara que eu não fique decepcionado quando vêla novamente nos filmes

Luís André Bezerra 15 de novembro de 2011 às 06:00  

olá, Elvis

legais as leituras e observações sobre esse bom filme. realmente o que merece ser destacado é a _forma_ com que foi trabalhada a metalinguagem literária na tela (como foram entrelaçados os planos de câmera subjetiva é um bom exemplo - algumas cenas vistas através da percepção de diferentes personagens).

apenas fico em dúvida se a segunda guerra é apenas "pano de fundo", já que os conflitos são diretamente ligados a esse contexto de guerra. cada um tem seu "destino" traçado em ações ligadas à batalha: seja a saída da prisão pro campo de batalha, seja trabalhar como enfermeira atendendo feridos, etc.

quantp à atriz (Keira), a mandíbula nem me chama a atenção, não faz diferença. mas o que sempre demoro a acostumar é com o inglês dela, com aquela fala rápida, que influencia diretamente o ritmo da narrativa. e todos atores estão super bem mesmo.

parabéns pelo blog!

Natallyanea 19 de novembro de 2011 às 10:42  

Esse ainda não vi! Mas gosto da atuação de Keira Knightley, no geral... A mandíbula dela não me dá agonia...rs... até agora! Mas há mesmo essa proeminência, que a faz única, né? Afinal, as atrizes são sempre tão perfeitas!... Assisti Orgulho e Preconceito, e gostei. Depois do seu comentário, Elvis, fiquei curiosa. Já tô reservando a data na agenda. Beijos.

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