“VÁ BUSCAR A MANTEIGA!” Sobre Último Tango em Paris

Uma grande mostra se faz reverenciando grandes clássicos. Aqui não se trata de um filme excepcional. Tem um grande ator, numa performance ousada e corajosa, Marlon Brando. Tem uma atriz estreante, Maria Schnider, que durante toda a sua vida será lembrada pelas cenas de sexo deste filme. Teremos música, fotografia, direção de arte e roteiro que funcionam muito bem para potencializarem o clima passional da obra. Mas, visto hoje, talvez não choque nem diga tanto como disse nos anos 70.

As novelas brasileiras já absorveram há muito tempo as cores e cenários de ÚLTIMO TANGO EM PARIS. Outros diretores já foram capazes de filmar com maior ousadia ou beleza uma relação sexual, mas este filme trás uma mística muito própria e peculiar.

Existe uma forma de ver o filme que me agrada muito e que me fez escolhê-lo – claro que o fato de ele ser referência na História do Cinema já seria o suficiente. Foi a possibilidade de se viver uma intimidade com o outro, sendo este Outro a pessoa mais improvável, e por ser ela uma pessoa fora das possibilidades reais e racionais, nos permitirmos com ela de fazer uma série de outras coisas também impensáveis e inimagináveis, mas que fazem sentido nesse hiato aberto pelo destino. Esse é o assunto que é discutido no filme de Bertolucci e que é atemporal e que, por isso mesmo, ajuda a torná-lo clássico e atualizado.

O não-lugar, as não-pessoas que só ganham relevo e profundidade para o espectador, mas não entre os personagens e os caminhos propostos de sexualização e busca de prazer são elementos que fetichizam o filme estrelado por Marlon Brando.

Chegar ao título deste filme é atingir um orgasmo cinematográfico com ou sem manteiga.

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